Monique mentia bastante, não sabia o real motivo para isso. Às vezes mentia por proteção, outras vezes por defesa e outras por diversão. Porém havia uma pessoa que ela não conseguia mentir, seu melhor amigo Rubem, com ele era completamente verdadeira, e ela não entendia o porquê. A maior parte de sua vida era fundada em mentiras, mentia que era rica, que entendia de música, que era culta, mas pra ele mostrava que estava com dificuldades financeiras, que não entendia nada de música e que era superficial e vazia. Rubem, por sua vez, se divertia com isso, e ao mesmo tempo queria mostrar a ela que ela deveria mudar e se assumir como é.
Ela não percebia, mas aos poucos se enamorava, se apaixonava, criava uma necessidade de ter Rubem cada vez mais na sua vida, mas ele não sentia mais o mesmo, num passado ele sentiu e foi ignorado, mas continuou até conseguir, mas depois passou, viu que não era o que queria... Não foi o mesmo com ela, no início nada queria, mas depois foi crescendo, crescendo até não poder mais controlar os sentimentos. No dia que ele disse que não poderiam mais ficar juntos como namorados e que só podiam ficar juntos como amigos, ela desmoronou. A única verdade da vida dela e agora acabou...
Sofria e sabia que ele também sofria, mesmo que ele não mostrasse, ele havia dito a ela um dia que não poderia ficar com ela pensando em outra, mesmo que essa outra estivesse longe e ele nem houvesse visto seu rosto pessoalmente, disse que não daria mais certo, mas que mesmo assim ela havia sido especial pra ele e que ele não a esqueceria, pois ela era sua única amiga. Ela sabia que ele falava a verdade e ele era tão especial pra ela que nem que ela desejasse iria esquecê-lo.
Ela não queria deixá-lo ir, mas teve que deixar. Sentia muita falta dele, sentia saudade, saudade do toque da sua pele, da voz, do gosto do beijo, de ver a cor dos olhos dele bem de perto, de ouvir a risada dele e de ouvi-lo cantando "Beautiful Girl" do INXS toda vez que a via. Ela achava que nunca encontraria isso novamente em nenhum rapaz. Ele dizia que sim, ela iria sentir, era só ela aceitar-se como era, sem máscaras, deixar à pura e simples verdade amostra. Ela bloqueara a verdade... Escondera a sete chaves, pra ela a verdade, agora, era ele.
Ele não desejava magoar-la, nem lhe causar dor, mas tinha que causar um pouco para que ela pudesse entender. Ainda sentia algo por ela, não podia mentir, mas não era o mesmo que antes, ela não o entendia por completo, ela não era como ele. Ela não conseguia ser sincera com ela mesma, já ele conseguia e aceitava o que não podia mudar, aceitava o imutável. Ela mascarava, dizia coisas que eram claramente mentira, mas que de algum modo as pessoas acreditavam.
Um belo dia ele recebe uma ligação, era a mãe dela chorando, dizendo que ela estava trancada no quarto ouvindo uma música no último volume e disse que só sairia de lá se falasse com ele ou o visse... "Faz mais de um mês que não nos vemos, só nos falamos" pensou enquanto dizia que estava a caminho. Rezava para ela não ter feito nada de idiota, como... Ele nem ousava a completar o pensamento, quando chegou à porta da casa dela podia ouvir muito bem a música que tocava... "Nossa música, ela está ouvindo a nossa música!" Mal esperou a porta abrir e saiu correndo em direção do quarto dela, bateu na porta, disse que era ele, ouviu como resposta uma voz de quem havia chorado, de quem sofria, que quem queria morrer.
O desespero percorreu os olhos dele, pediu para ela abrir e ela disse não, ele pediu mais uma vez e teve o silêncio, chamou outra vez e nada, resolveu arrombar a porta... Quando a abriu, encontrou Monique, a menina qual havia devotado parte de sua vida desacordada e via sangue. "Não, por favor, não" Gritava a plenos pulmões, "não faça isso comigo, não comigo, não hoje e não agora!", era responsável por ela, de algum modo era responsável por aquilo também. "Monique... Monique" dizia a meia voz com ela nos braços.
Depois de alguns instantes que pareceram eternos, ela abriu os olhos, seus lábios estavam pálidos. "Você veio mesmo" disse com a voz fraca "desculpe-me por isso, mas não aguentei, sou fraca", ele pode ver que o sangue não era dos pulsos ou da garganta como ele imaginou e sim das coxas e pernas, viu também folhas de papel no chão, umas manchadas de sangue e outras com algo escrito.
Em uma das folhas que ela puxou e entregou pra ele lia-se:
“De vão de porta em vão de porta Esquina a esquina Com fantasmas de néon na cidade E ela canta Fica comigo Fica comigo Fica comigo” - Nossa música... - Ele começou a dizer, ela o calou e entregou outra. E nela tinha assim:
Ainda te amo, e, você sabe. Se ainda tiver uma chance me diga, pois acho que não consigo viver sem você. Talvez um dia consiga, mas agora não. Seja meu amigo, meu amante, seja o que for, mas esteja comigo, hoje, agora e sempre. Serei eternamente tua...
Quando Rubem leu isso e olhou pra Monique, não segurou as lágrimas e a abraçou, ela retribuiu e desmaiou, perdeu muito sangue... No hospital ele não saiu de seu lado...
Eram amigos, eram amantes, eram um só...
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