Angelique e suas Facetas

A história de Angelique e suas muitas facetas...

Duas Figuras

As lágrimas lhe queimavam os olhos. Pensava que havia esquecido como chorar, tantos anos sem derramar nenhuma... E hoje derramava.

- Ainda sei chorar, olhe! - Mostrava as mão molhadas aquela pessoa a sua frente. - Ainda sei chorar! - repetia.
- Não queria que você chorasse por minha causa, por isso me afastei... - Começou a dizer, porém não terminou.

Podia se ver duas Figuras abraçadas, uma Menor e outra Maior, a Menor chorava e sorria ao mesmo tempo e a Maior tinha uma cara de preocupada.

- Obrigada, você me mostrou que ainda tenho sentimentos.
- Você não entende o que acabo de lhe dizer? Não podemos nos ver.
- Eu entendo e choro por isso, você não sabe o quanto eu gostaria de continuar lhe vendo... Você é importante para mim. - respondia com mais lágrimas nos olhos, porém eles brilhavam de esperança. - Me dá uma chance, por favor.
- Não posso, eu já lhe disse... Eu adoraria dar essa chance, mas não posso.
- Por favor... - disse com mais lágrimas borrando a maquiagem escura.

Agora as Figuras se olhavam. A Maior mexia no cabelo da Menor, seus olhos também estavam marejando, a Figura Menor fechava os olhos ao toque, suas lágrimas rolavam pela face. Ninguém parecia notar aquela cena, era tocante se paressem para prestar atenção.

- O que eu faço com você? Vamos acabar nos envolvendo demais.
- Seja meu amigo...
- Vamos nos envolver, isso é inevitável.
- Então vamos deixar rolar...

A Figura Menor chorava, mas não se descontrolava, parecia que pela primeira vez estava sob controle, a única coisa que queria era ficar lá com a Figura Maior. A Figura Maior demonstrava que também queria ficar com a Menor, mas não queria um envolvimento.

- Sabe o que eu queria que acontecesse? - disse a Figura Menor - Que assim que eu virar as costas e sair, que você vinhesse atrás de mim, onde quer que eu fosse.

A Figura Maior ficou em silêncio, fitava a Menor com um ar indecifrável, essa enxugou as lágrimas, abraçou a Maior novamente e saiu. A Maior ficou parada observando a Menor se afastar...

Como você, tudo está bem

Ele estava abraçado a mim: sentia falta do peso dele sobre o seu corpo, a pressão na minha pele, seu cheiro, seus beijos, seu toque. Lá estava eu, com minha camisola de seda negra, desenhando todas as minhas curvas generosas. O braço dele envolvia a minha cintura... Nossa, há quanto tempo não ficavam juntos...? Ele dormia ainda, e eu estava acordada observando-o, mas não queria me mexer... o momento era maravilhoso, não queria estragar nada.


Não sabia ao certo onde nós estávamos, porém, não dava a mínima, estava com ele, e só isso me importava. De repente, ele começa a mexer-se devagar, havia despertado; eu acompanhava tudo com um sorriso, meus dedos desenhavam o seu rosto, aquele cavanhaque me deixava encantada, principalmente quando ele emoldurava aquele lindo sorriso.


Abriu os olhos, sorriu e me beijou; não pude deixar de sorrir - ele transbordava carinho. Me virou devagar, de modo que ficássemos deitados em "conchinha". Ele começou a beijar minhas costas e meu pescoço... Um arrepio subiu pela minha coluna; ele soltou uma leve risada e continuou. Já estava mole com aquele carinho todo quando ele disse:


- Tira essa camisola, vai... Você fica linda sem ela...


Deus, que voz era aquela? Estava derretida por ele, e quando fui ameaçar tirá-la, ele, com uma destreza impressionante, já estava no fim, em meio a beijos.


- Safadinho você eim?


- Safado não, zelando pelo seu bem estar... E o meu também. Gosto de sentir sua pele na minha...


Após essa frase, virei para olhar nos seus olhos; Estava calma como nunca estivera, parecia que, com ele, nada de mal iria me acontecer. Passei a mão no rosto dele e com os dedos desenhei seu queixo e seus lábios. Beijei-o levemente e coloquei a minha cabeça no seu peito. Ele me abraçou e me apertou, como se desejasse que ficássemos cada vez mais juntos. Me aconcheguei e comecei a passar os dedos pelo seu peito definido.


- Queria que isso nunca acabasse... - comecei a dizer.


- Eu também não quero que isso acabe... Nos veremos mais, eu prometo.


- Sim, nós nos veremos sim...


- Eu quero te dizer algo.


- O que?


Ele fez uma pausa interminável, me pegou e me elevou, até que meus olhos ficassem da altura dos seus... Passou a mão no meu rosto, desenhou meus lábios, tirou o cabelo da frente dos meus olhos e o afagou. Seus olhos eram tão doces, pareciam estar gravando cada ângulo do meu rosto... Me beijou na testa e me virou novamente. Ao pé do meu ouvido, ele sussurou:


- Eu te amo...

Missa e lágrimas


De mãos postas, uma cena bastante rara de se ver, Judy chorava. Pedia a Deus, Cristo, sabe-se lá quem, forças e paciência para não fazer besteira.

Suas lágrimas caiam enquanto pedia... Quem diria, uma bruxa que chora na hora da comunhão de uma Igreja Católica. Teria ela se convertido? Não, ela estava apenas pedindo forças a um Deus que era Uno como a sua Deusa era Una.

Pela primeira vez ela estava com medo de estragar tudo. Judy estava a muito tempo sozinha, ela precisava desse tempo, mas agora já não era mais necessário. Seu fardo estava pesado demais, precisava de alguém que a ajudasse a carregar e que lhe desse forças. Seu medo era convertido em lágrimas.

"Senhor, sei que faz muito tempo desde que não conversamos assim, mas, por favor, eu lhe peço, não me deixe estragar tudo. Pela primeira vez em anos eu me sinto maravilhosamente bem, não deixe-me estragar isso... Por Favor..."

As mulheres sentadas ao seu lado estavam um pouco assustadas, aquela moça de preto ajoelhada soluçava. De repente ela para, suspira e senta-se, ainda se via as lágrimas

Judy tentava enxugar as lágrimas, mas elas ainda teimavam em cair. Depois do último amém do padre ela se retirou, enquanto olhava seus sapatos na frente da igreja uma das mulheres tocou-lhe o ombro e disse:
- Judy, o que houve?
- Nada, dona Julia, nada demais.
- Me conte por favor, você chorou tanto hoje...
- Não é nada, é coisa minha... Não é nada

E se afastou em direção a uma rua escura.

O vinho de Juliene


- Maldita carência, vai e volta... - dizia Juliene enquanto tomava mais uma taça de vinho tinto.
- Porque raios eu tenho que sentir isso, pricipalmente quando estou naqueles dias ou próxima a eles?

Bebia o vinho sem se dá conta que a garrafa já estava quase no fim. No seu rádio tocava Amy Winehouse que dizia a quem quisesse ouvir que o amor era um jogo perdido. Ela começava a pensar assim, nenhum homem a queria; Davam todos os sinais que a desejavam e na hora em que ela propunha algo mais sério fugiam.
- É queridos, falar é lindo mas, as palavras morrem no ar... Assim como a canção.

Olhou seu apartamento... Clean, arrumado e com um cheiro maravilhoso de jasmins. Era bem sucedida, morava só e o apartamento era próprio, na sua garagem existia um bom carro bem cuidado. Pagava as contas em dia e vivia cercadas por pessoas boas, mas lhe faltava alguém.

Seu gato de estimação aninhava-se no seu colo. Salém era seu companheiro a alguns meses. Aparecera em seu escritório quando tinha apenas alguns dias de vida, era seu primeiro animal depois que começou a morar só. Era como se Deus tivesse enviado ele para fazer companhia, antes dele, vivia em bares fingindo ser alegre e simpática tendo que aguentar pessoas boçais.

Apesar da carência, ficava em casa. Sabia que era melhor ficar lá. Salém lhe dava atenção e aceitava os carinhos dela. Ela levantou-se, arrumou a camisa masculina que vestia só com a calcinha e pegou a garrafa vazia de vinho e a levou para a cozinha.
- WOW, essa é a terceira essa semana... Preciso comprar mais...