Angelique e suas Facetas

A história de Angelique e suas muitas facetas...

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As lágrimas pretas



- Maldita maquiagem que se diz à prova d'água, estou chorando lágrimas pretas!


Dizia Juliene olhando-se no espelho em meio de outra crise. Já era a segunda apenas essa semana e, pelas contas dela, não era a sua TPM chegando. Porquê raios ela estava tendo essas crises? Seria a falta de vinho no seu organismo?


- Droga, droga droga, agora vou ter que limpar tudo para parecer que não chorei e ficar linda e maravilhosa para caso alguém me veja...


Salém a olhava do sofá. Os grandes olhos amarelos já haviam visto essa cena tantas vezes que nem se espantava mais. Mas pareci que dessa vez era mais sério, enquanto limpava a maquiagem borrada pelas lágrimas, Juliene caiu de joelhos no  banheiro chorando compulsivamente. Em um pulo, ele foi correndo para o colo da dona.


- Salém, o que eu fiz dessa vez? Me diz... Eu pensei... - tentou dizer ao gato antes de voltar a chorar.


O gato aninhava-se no seu colo, lhe fazendo carinho, ele, mais do que ninguém, sabia como a sua dona ficava frágil nessas crises. Mas que crises são essas? O que as causava?


Assim que ela se acalmou, sentou-se no chão apoiando as costas no sofá e com um copo de whiskey na mão. Seu som tocava Bajofondo com seus eletro-tangos, Salém estava no seu ombro, com a cabeça encostada na sua, como se pudesse transmitir os pensamentos de um para o outro.


- Sabe, hoje eu li coisas que me desagradaram um pouco. Senti um pouco de inveja misturado com ciúmes. Tá Salém, foi ciúmes, eu admito, agora não me olhe assim! - dizia ela colocando a mão nos olhos do gato que a tirava com a pata.


Tomou um gole, estava com gelo de água de coco para poupar-lhe tempo. Descia quente, aquecendo aquele coração. Salém foi para seu colo, ficou de um modo que poderia ver o rosto da dona e sempre checar se ele voltaria a ter lágrimas pretas.


- É... Mais uma vez eu senti ciúmes. Mais uma vez o coração não soube como responder. Queria que todos fossem como você, não me fazem ciúmes, só as vezes quando prefere a visita do que a mim. - gargalhava, mas isso não era efeito da bebida, ela já estava tão forte que nem notava mais o álcool.


Salém a esquentava, a janela estava aberta e ventava muito...


- Mais tudo bem Salém, tudo bem. A pessoa gosta de mim, isso eu sei. Só é uma questão de esperar.


Disse ela tomando o último gole do copo, colocou mais e ficou lá sentada no chão, recuperada, ouvindo o seu eletro-tango com seu gato lhe aquecendo. Amanhã seria um novo dia na redação e ela deveria está bem, inteira e sem ressaca.

Duas Figuras

As lágrimas lhe queimavam os olhos. Pensava que havia esquecido como chorar, tantos anos sem derramar nenhuma... E hoje derramava.

- Ainda sei chorar, olhe! - Mostrava as mão molhadas aquela pessoa a sua frente. - Ainda sei chorar! - repetia.
- Não queria que você chorasse por minha causa, por isso me afastei... - Começou a dizer, porém não terminou.

Podia se ver duas Figuras abraçadas, uma Menor e outra Maior, a Menor chorava e sorria ao mesmo tempo e a Maior tinha uma cara de preocupada.

- Obrigada, você me mostrou que ainda tenho sentimentos.
- Você não entende o que acabo de lhe dizer? Não podemos nos ver.
- Eu entendo e choro por isso, você não sabe o quanto eu gostaria de continuar lhe vendo... Você é importante para mim. - respondia com mais lágrimas nos olhos, porém eles brilhavam de esperança. - Me dá uma chance, por favor.
- Não posso, eu já lhe disse... Eu adoraria dar essa chance, mas não posso.
- Por favor... - disse com mais lágrimas borrando a maquiagem escura.

Agora as Figuras se olhavam. A Maior mexia no cabelo da Menor, seus olhos também estavam marejando, a Figura Menor fechava os olhos ao toque, suas lágrimas rolavam pela face. Ninguém parecia notar aquela cena, era tocante se paressem para prestar atenção.

- O que eu faço com você? Vamos acabar nos envolvendo demais.
- Seja meu amigo...
- Vamos nos envolver, isso é inevitável.
- Então vamos deixar rolar...

A Figura Menor chorava, mas não se descontrolava, parecia que pela primeira vez estava sob controle, a única coisa que queria era ficar lá com a Figura Maior. A Figura Maior demonstrava que também queria ficar com a Menor, mas não queria um envolvimento.

- Sabe o que eu queria que acontecesse? - disse a Figura Menor - Que assim que eu virar as costas e sair, que você vinhesse atrás de mim, onde quer que eu fosse.

A Figura Maior ficou em silêncio, fitava a Menor com um ar indecifrável, essa enxugou as lágrimas, abraçou a Maior novamente e saiu. A Maior ficou parada observando a Menor se afastar...

Missa e lágrimas


De mãos postas, uma cena bastante rara de se ver, Judy chorava. Pedia a Deus, Cristo, sabe-se lá quem, forças e paciência para não fazer besteira.

Suas lágrimas caiam enquanto pedia... Quem diria, uma bruxa que chora na hora da comunhão de uma Igreja Católica. Teria ela se convertido? Não, ela estava apenas pedindo forças a um Deus que era Uno como a sua Deusa era Una.

Pela primeira vez ela estava com medo de estragar tudo. Judy estava a muito tempo sozinha, ela precisava desse tempo, mas agora já não era mais necessário. Seu fardo estava pesado demais, precisava de alguém que a ajudasse a carregar e que lhe desse forças. Seu medo era convertido em lágrimas.

"Senhor, sei que faz muito tempo desde que não conversamos assim, mas, por favor, eu lhe peço, não me deixe estragar tudo. Pela primeira vez em anos eu me sinto maravilhosamente bem, não deixe-me estragar isso... Por Favor..."

As mulheres sentadas ao seu lado estavam um pouco assustadas, aquela moça de preto ajoelhada soluçava. De repente ela para, suspira e senta-se, ainda se via as lágrimas

Judy tentava enxugar as lágrimas, mas elas ainda teimavam em cair. Depois do último amém do padre ela se retirou, enquanto olhava seus sapatos na frente da igreja uma das mulheres tocou-lhe o ombro e disse:
- Judy, o que houve?
- Nada, dona Julia, nada demais.
- Me conte por favor, você chorou tanto hoje...
- Não é nada, é coisa minha... Não é nada

E se afastou em direção a uma rua escura.