Angelique e suas Facetas

A história de Angelique e suas muitas facetas...

O telefonema


O telefone toca
- Alô? - responde uma voz masculina.
- Que bom que você atendeu, queria tanto ouvir sua voz! - responde uma voz feminina carregada de dor.
- O que houve?
- Nada demais, apenas queria ouvir sua voz.
- Você não está falando toda a verdade - ele sabia o que falava, conhecia aquela garota muito bem e sabia que ela escondia algo. - Me diga o que aconteceu.
Do outro lado da linha ouviu-se um suspiro profundo e silêncio...
- Fui obrigada a fazer uma faxina no meu quarto e não estava ainda preparada para isso... - Começou ela a dizer - As feridas ainda estão abertas e ainda sinto dor...
- Porque você fez então isso se sabia que iria lhe causar dor?
- Fui obrigada, achavam que se eu conseguisse fazer isso as coisas se organizariam... - a voz dela estava triste e isso o deixava inquieto por está longe e não poder ajudar.
- Queria que você estivesse aqui, ia me ajudar tanto... Queria que você vinhesse para cá. - Ela disparou antes que ele pudesse dizer algo.
Eles tinham uma química impressionante, um gostava do outro, mas não podiam viver uma história juntos, ambos estavam presos a outra pessoa... Ela, apesar de solteira, ainda amanva o ex e ele ainda estava namorando, mas a garota morava em outro estado, assim como ela.
- Também queria está ao teu lado, iria te ajudar de algum modo e iria ficar feliz e ia te fazer feliz. - Disse ele por fim.

Conversaram sobre futilidades, falaram do tempo, de filmes e de livros.
- Nunca te contei, mas sonhei com você um dia desses. - Disse ela do nada.
- Verdade? Quando? - perguntou ele.
- Lembra daquela vez que eu te mostrei a foto do teatro? Pronto sonhei depois disso.
- Me diz como foi esse sonho.
- Eu estava estudando ou escrevendo, não lembro ao certo, a campainha tocava e meu pai ia atender e instantes depois ouvia meu pai me chamar, não havia ouvido outra voz pois estava com meus fones ouvindo música. Dei uma arrumada na minha roupa e fui, foi aí que te vi... - ela fez uma pausa, já não tinha dor na sua voz, mas ainda existia fragmentos de tristeza.
- O que aconteceu depois?
- Eu corri para seus braços dizendo "É você! Você veio me ver! Você veio!" e você olhava para mim e dizia "Seu sorriso é mais bonito pessoalmente, você é muito mais bonita pessoalmente" e me abraçava, me abraçava e um jeito que eu não queria mais sair dele e você não queria me soltar. As lágrimas rolavam dos meus olhos, lagrimas de felicidade por que você estava lá comigo, você foi atrás de mim! E você as enxugava e dizia que estava alí pra me fazer feliz, pra cuidar de mim... - A voz dela falhou nesse momento.
- Por qual razão você não me contou isso antes? - Ele estava confuso, isso fazia semanas que ela havia sonhado isso...
- Porque tive medo.
- Medo de que?
- De parecer uma idiota.

O silêncio deles durou alguns minutos, se ele não estivesse longe, iria correndo pegar aquela garota nos braços e segura-lá com tanta força para não deixar ela escapar. Ela sofria e ele sabia disso e nada podia fazer, a animava e confortava, não era a primeira vez que queria pega-lá no colo. Mas, era a primeira vez que ele ouvia ela dizendo que sonhará com ele e só com ele.
- Preciso ir, já tomei muito tempo seu - disse ela por fim
- Não, você não tomou meu tempo, sempre é bom falar com você. Ouvir sua voz...
- Pra mim, ouvir sua voz faz com que uma tempestade interna pare e se converta em uma brisa primaveril. - Disse a garota. - Vem me ver, por favor! - Era uma ordem misturada com desejo.
- Eu quero, vontade não falta...
- Preciso ir, amor...
- Fica bem, por favor, fica bem.
- Estou tentando ficar...
- Eu te amo.
- Eu também te amo, obrigada por me amar.

Ela havia desligado ao dizer essas palavras, ele olhava para o telefone, será que ela estava realmente tentando ficar bem?

O início...


- Ahhhhhhhhhhh!! - gritava Lucy enquanto fugia correndo pela floresta, apenas uma coruja a observava naquela noite de Lua Cheia. Ela pensava em todas as oportunidades que perdeu e as que agarrou, imaginou o real motivo daquele homem vestido de negro está a perseguindo. Ela arfava, o suor escorria pelo seu rosto, quanto mais ela corria mais se perdia na floresta. Seu vestido já estava rasgado por conta dos galhos retorcidos e secos da árvores, era inverno e as árvores estavam nuas.

- Lucy... Não tenha medo, não lhe farei mal. - dizia calmamente o homem, ele era alto e aparentava ser forte, tinha olhos negros como à noite sem lua e às vezes relampejavam um brilho vermelho sangue, trajava um sobretudo negro e tinha uma tatuagem muito antiga na mão. Já ela era uma garota de uns 17 anos, seu corpo estava desenvolvido, era bela com cabelos castanhos escuros e olhos da mesma cor. Usava um vestido tubinho azul, bem simples, com um pequeno bordado, feito pela própria, na barra.

Lucy corria mais rápido que podia, mas, parecia que o estranho era mais rápido que ela e não fazia esforço para isso.
- O que você quer de mim!? - berrava a garota a plenos pulmões para o estranho - Nem ao menos sei seu nome! - continuava ela. Estava começando a ficar cansada, sua voz ia desaparecendo aos poucos e sua respiração ficava cada vez mais rápida.
- O que eu fiz, o que ele quer de mim? - pensava e aos poucos ia vendo a sua vida passar. Viu a sua família adorada, seus amigos, seu gatinho de estimação e seu namorado, viu o seu primeiro beijo, sua primeira dança, seu primeiro gole e seu pedido de namoro. Notou as oportunidades de estar perto de quem amava desperdiçadas, viu a falta que todos faziam...

Continuava a correr, estava fraca, precisava parar e rápido se não iria desmaiar, mas não podia, o estranho homem ainda estava atrás dela. Correu até a borda de um lago encravado na floresta, a lua era refletida no espelho d'água e ela ao olhar para trás e não ver aquele que a perseguia parou um pouco. Resolveu se sentar e encostar-se numa árvore mais escondida. O fez, respirou, jogou um pouco de água no rosto e notou que ele foi arranhado por algum galho na corrida. Ao tentar estancar o sangue ouviu uma voz grossa que lhe penetrava os ossos.

- Meu nome é Milosh, e você me conhece a muitas vidas apenas não lembra... - disse o homem em pé atrás dela. - Se deseja lembrar se de tudo, dê uma olhada no lago, não tenha medo, como lhe disse não te farei mal, seria incapaz de fazer isso com você.- continuou estendendo a mão a ela, sua voz tinha uma calma estranha, não parecia que ele havia corrido tanto.
- NÃO! - gritou
Lucy, sua voz estava fraca e ainda muito cansada. - Não sei o que você quer comigo! - continuou, recusando a mão do estranho.

- Vamos, olhe atentamente para mim e quem sabe você se lembrará de algo... - falava Milosh ansioso - Me dê uma chance, olhe no lago e você entenderá Angelique... Por favor!
Ao ouvir esse nome Lucy teve um estalo e aceitou a mão do homem podendo assim ver melhor a sua tatuagem. Notou que era um desenho parecido com um dragão e teve outro estalo, ele a guiou até a borda do lago e olhou seu reflexo nele. E ela viu algo que a fez lembrar...

CONTINUA

A verdade redime?


Monique mentia bastante, não sabia o real motivo para isso. Às vezes mentia por proteção, outras vezes por defesa e outras por diversão. Porém havia uma pessoa que ela não conseguia mentir, seu melhor amigo Rubem, com ele era completamente verdadeira, e ela não entendia o porquê. A maior parte de sua vida era fundada em mentiras, mentia que era rica, que entendia de música, que era culta, mas pra ele mostrava que estava com dificuldades financeiras, que não entendia nada de música e que era superficial e vazia. Rubem, por sua vez, se divertia com isso, e ao mesmo tempo queria mostrar a ela que ela deveria mudar e se assumir como é.

Ela não percebia, mas aos poucos se enamorava, se apaixonava, criava uma necessidade de ter Rubem cada vez mais na sua vida, mas ele não sentia mais o mesmo, num passado ele sentiu e foi ignorado, mas continuou até conseguir, mas depois passou, viu que não era o que queria... Não foi o mesmo com ela, no início nada queria, mas depois foi crescendo, crescendo até não poder mais controlar os sentimentos. No dia que ele disse que não poderiam mais ficar juntos como namorados e que só podiam ficar juntos como amigos, ela desmoronou. A única verdade da vida dela e agora acabou...

Sofria e sabia que ele também sofria, mesmo que ele não mostrasse, ele havia dito a ela um dia que não poderia ficar com ela pensando em outra, mesmo que essa outra estivesse longe e ele nem houvesse visto seu rosto pessoalmente, disse que não daria mais certo, mas que mesmo assim ela havia sido especial pra ele e que ele não a esqueceria, pois ela era sua única amiga. Ela sabia que ele falava a verdade e ele era tão especial pra ela que nem que ela desejasse iria esquecê-lo.

Ela não queria deixá-lo ir, mas teve que deixar. Sentia muita falta dele, sentia saudade, saudade do toque da sua pele, da voz, do gosto do beijo, de ver a cor dos olhos dele bem de perto, de ouvir a risada dele e de ouvi-lo cantando "Beautiful Girl" do INXS toda vez que a via. Ela achava que nunca encontraria isso novamente em nenhum rapaz. Ele dizia que sim, ela iria sentir, era só ela aceitar-se como era, sem máscaras, deixar à pura e simples verdade amostra. Ela bloqueara a verdade... Escondera a sete chaves, pra ela a verdade, agora, era ele.

Ele não desejava magoar-la, nem lhe causar dor, mas tinha que causar um pouco para que ela pudesse entender. Ainda sentia algo por ela, não podia mentir, mas não era o mesmo que antes, ela não o entendia por completo, ela não era como ele. Ela não conseguia ser sincera com ela mesma, já ele conseguia e aceitava o que não podia mudar, aceitava o imutável. Ela mascarava, dizia coisas que eram claramente mentira, mas que de algum modo as pessoas acreditavam.

Um belo dia ele recebe uma ligação, era a mãe dela chorando, dizendo que ela estava trancada no quarto ouvindo uma música no último volume e disse que só sairia de lá se falasse com ele ou o visse... "Faz mais de um mês que não nos vemos, só nos falamos" pensou enquanto dizia que estava a caminho. Rezava para ela não ter feito nada de idiota, como... Ele nem ousava a completar o pensamento, quando chegou à porta da casa dela podia ouvir muito bem a música que tocava... "Nossa música, ela está ouvindo a nossa música!" Mal esperou a porta abrir e saiu correndo em direção do quarto dela, bateu na porta, disse que era ele, ouviu como resposta uma voz de quem havia chorado, de quem sofria, que quem queria morrer.

O desespero percorreu os olhos dele, pediu para ela abrir e ela disse não, ele pediu mais uma vez e teve o silêncio, chamou outra vez e nada, resolveu arrombar a porta... Quando a abriu, encontrou Monique, a menina qual havia devotado parte de sua vida desacordada e via sangue. "Não, por favor, não" Gritava a plenos pulmões, "não faça isso comigo, não comigo, não hoje e não agora!", era responsável por ela, de algum modo era responsável por aquilo também. "Monique... Monique" dizia a meia voz com ela nos braços.

Depois de alguns instantes que pareceram eternos, ela abriu os olhos, seus lábios estavam pálidos. "Você veio mesmo" disse com a voz fraca "desculpe-me por isso, mas não aguentei, sou fraca", ele pode ver que o sangue não era dos pulsos ou da garganta como ele imaginou e sim das coxas e pernas, viu também folhas de papel no chão, umas manchadas de sangue e outras com algo escrito.

Em uma das folhas que ela puxou e entregou pra ele lia-se:
“De vão de porta em vão de porta
Esquina a esquina
Com fantasmas de néon na cidade
E ela canta
Fica comigo
Fica comigo
Fica comigo”

- Nossa música... - Ele começou a dizer, ela o calou e entregou outra. E nela tinha assim:

Ainda te amo, e, você sabe. Se ainda tiver uma chance me diga, pois acho que não consigo viver sem você. Talvez um dia consiga, mas agora não. Seja meu amigo, meu amante, seja o que for, mas esteja comigo, hoje, agora e sempre. Serei eternamente tua...

Quando Rubem leu isso e olhou pra Monique, não segurou as lágrimas e a abraçou, ela retribuiu e desmaiou, perdeu muito sangue... No hospital ele não saiu de seu lado...

Eram amigos, eram amantes, eram um só...

E seus olhos mudam de cor...



Phantom Lady acordou sentindo-se bem... "Como é boa essa sensação, fazia muito tempo que não a sentia." pensou olhando para seu irmão que dormia na cama ao lado. Haviam conversado bastante, fizera ela esquecer determinadas coisas e lembrar outras, mas ela não importava-se com esse fato. Havia contado a ele que sempre acreditou nele, mesmo ele massacrando o coração dela. Ela não contou tudo, seria "entregar o ouro" como dizia sua mãe... Daria a vida por ele mesmo sabendo que ele não daria a vida por ela. Ela também faria isso por... Sacudiu a cabeça para apagar essa memória, "é melhor não mexer nisso..." pensava, achava melhor assim, desse jeito não doía tanto. Ainda sentia dor, mas não sofria como antes, fazia tempo que não sofria, a dor a consumia.

Deitada, observava o sono solto do irmão... A quantos anos ela não observava aquela cena? Ele, apensar de mais velho, parecia uma criança que ela deveria proteger... Sentia falta da presença do irmão na casa, não tinha com quem conversar determinadas coisas. "Porque você sumiu todos esses anos?" falou em voz alta, seu irmão se mexeu e ela se calou. Resolveu levantar-se para checar a cor dos olhos, tinha transformado isso num hábito, apesar deles não terem mudado de cor com tamanha frequência, mas mesmo assim ela checava. Hoje, ela podia perceber o que era pupila e o que era íris, era um castanho madeira bonito. "Não mudou muito, mas pelo menos vejo que tenho pupilas...", tomou banho e se preparou para o café da manhã, antes de ir olhou mais uma vez o irmão, ele despertara e a olhava com seus olhos ainda cansados.
- Bom dia! - disse ela, ele apenas acenou com a cabeça, ainda estava dormindo.

Ela comeu pouco como de costume, se preocupava com isso, estava muito magra. Iria compensar no almoço e no lanche da tarde, dizia a si mesma sabendo que não compensaria. Talvez, se o irmão não fosse trabalhar naquela tarde, sairía com ele, cinema, algumas lojas, sairía de casa. Sua mente desejava ir para dois locais, ambos que ela não sabia se iria um dia ou não.
- Você parece feliz, teve uma boa noite? - perguntava o irmão sentando ao seu lado na mesa, ela não havia notado que ele chegara.
- Tive sim e você? - ela queria contar a ele que alguém dormiu abraçado com ela, mas ele iria a chamar de louca, assim como tantas outras pessoas. Conversaram um pouco, ele iria trabalhar na tarde e ela iria ao cinema só, como sempre, "se ao menos ele..." ela impediu o pensamento. Se ela terminasse ele iria sentir dor.

Sairam juntos de casa, ela e o irmão, só se separaram na parada de ônibus, ela iria para o centro e ele para o subúrbio. Antes de sair, ela checou seus e-mails, seu amigo havia escrevido, ela estav com saudade dele, sempre cuidando dela mesmo longe. "Queria está aí para cuidar corretamente de você" escrevera, ela também queria isso, todos os dias ele dormia abraçado com ela... Trazia paz para o coração, algo que ela não sentia a algum tempo. Mesmo que não fosse real aquele abraço, ela sentia. Escreveu uma resposta rápida dizendo que também desejava isso e que sentia falta de ouvir a voz dele.

Ela foi ao cinema... Viu o filme, era bom, mas ela estava só. Ouvia, nos seus fones a sua música favorita do Palcebo que dizia:
"Tem tanta raiva para os que nós amamos?
Me diga, nós nos importamos, não?
Você, correndo colina acima
Você eu, correndo colina acima.
Você e eu não seremos infelizes."

Voltou para casa onde teve uma surpresa...

"Narciso acha feio tudo que não é espelho"


Cansada de sua vida, Louise rezava para as horas passarem rapidamente, clamava pelos mil nomes de Deus para que ela pudesse sumir daquele país, tudo era muito estranho para ela, nada estava ao seu gosto, às pessoas não lhe agradavam, por qual razão ela ainda estava ali? Por qual razão ela já não havia pegado o primeiro avião e ido para a Noruega, onde sempre desejara está?

Só havia uma coisa que ela amava no país onde ela estava, a variedade de espelhos... Suas formas, sua qualidade, a distorção, tudo para ela era perfeito, nunca iria encontrar nada como os espelhos daquele país terrível que era obrigada a viver. "Tenha cuidado com eles, minha filha, espelhos podem ser traiçoeiros..." sempre dizia a mãe, nunca acreditou nisso. Sua mãe era sábia, mas temer espelhos? Que estupidez!

Louise acordou em mais um dia de sol intenso desejando não ter que fazer tudo que iria fazer. Faculdade que nunca lhe levaria a algum lugar, pegar ônibus ao invés do seu carro, olhar para a cara de pessoas que ela preferiria ver mortas... Levantou-se e logo foi se ver no espelho, inexplicavelmente ele estava quebrado... Ela não se lembrava de ter batido a porta para poder quebra-ló, apesar de sua mãe sempre ter lhe dito para não se olhar num espelho quebrado, se não quebraria sua alma, ela o fez. Um arrepio percorreu sua espinha, todos seus pelôs ficaram em pé, pensou que era a brisa fria que entrava pela janela... Mal sabia ela que havia se condenado.

Trocou de roupa e pegou o ônibus, não queria assistir a primeira aula e resolveu ficar sentada a beira do lago perto de seu prédio. Estava estranha, nada fazia sentido, nem a ida para a Noruega que marcara no dia anterior, a única coisa que a importava era mirar seu reflexo nas águas. Apenas isso, ela, ela era única coisa que importava.

Se inclinou para poder ver melhor... Inclinou-se mais um pouco... Ainda não via a totalidade do seu ser, mas notou que algo estava estranho... Quando conseguiu entender, já era tarde demais, escorregou e caiu no lago, suas roupas pesadas a puxaram para baixo, ela não conseguia lutar contra o peso delas, mas ela sentia que algo, além das roupas, a puxavam para baixo, uma mão...

A última imagem gravada nas suas retinas era a da sua face corroída pelo tempo... Sua alma foi quebrada, do jeito que a mãe disse que ocorreria se ela se olhasse no espelho quebrado. E não adianta chamar os mil nomes de Deus, pois ele nada pode fazer depois que você quebra a sua alma...

Phantom Lady... Seu dia...


Ela acordou com o barrulho irritante do despertador... "Putz, já é essa hora?" Pensava ao tentar desligar o aparelho. Não queria levantar-se, havia tido uma noite complicada, cheia de pesadelos... "Pesadelos são apenas ilusões, assim como os sonhos..." Pensava, ao abrir a janela. O céu era de um azul lindo, mas ela só via as nuvens cinzas que se formavam ao norte, "vai chover e eu não tô afim de levar mais peso na minha bolsa" pensava.

Estatura mediana, magra, até demais como ela própria diria, tinha aparência de frágil mas era mais forte de que se pensava, lutava constantemente com sua têndencia depressiva, não usava roupas brancas, as negras eram suas favoritas. No seu microsystem estava, sempre, um cd do Motörhead, com Lemmy e sua voz rouca dizendo que a única maneira de ouvir barulho é quando ele está em alto e bom som... Agora ela entendia essas palavras, e por mais que as pessoas acreditasem que a voz daquele homem barbudo e com uma verruga enorme era feia, ela a acalmava de um jeito inexplicável. Assim como... Ela sacudiu a cabeça afastando pensamentos, tinha que tomar banho se não se atrasaria para a faculdade que ela achava que não pertencia. Não era O curso dela, não era A turma dela, não era A vida que ela queria.

Seus olhos, quase negros, pareciam mudar de cor de acordo com a noite, se ela tivera pesadelos eram negros, se não tendiam ao castanho escuro, mas já haviam chegado perto da cor de mel. Sua pele ficava mal alva a cada dia, não iria chegar ao tom de mármore ou algo parecido, ela tinha uma beleza... Cadavérica, como havia dito um amigo uma vez. Ela não se importava com isso. Tomou seu banho, cuidou do seus cabelos cacheados e muito escuros que mudavam de cor de acordo com seu gosto, olhou nos olhos pelo espelho... Estavam megros que nem uma noite sem luar e estrelas, "a noite foi difícil, muito difícil" pensou.

Trocou-se, usou seu perfume normal, fraco porém marcante. Pegou sua bolsa e saiu do quarto, sabendo que teria que tentar comer algo, mas não sentia fome, aliás, a muito tempo não sentia fome, não esse tipo de fome. Ela ainda andava entorpecida pelos ocorridos, mas ela não falaria nada. Sentou se a mesa, falou com a mãe e se "fartou" com um copo de vitamina, mas do que isso ela vomitaria, seu estômago acostumou-se a comer pouco. Ainda fez hora, viu um pouco de tv antes de pegar seu celular ou MP4, selecionar a música e botar seus fones e sair de casa.

Música era a sua vida, assim como seus livros... Eles nunca haviam traído ela e nunca traíriam, pessoas faziam isso, ela não confiava mais nelas, mas era obrigada a conviver com elas. Poucas mereciam a confiança dela, contava-se nos dedos das mãos... Andando embalada por Gallon Drunk dizendo que o levasse para longe mais uma vez, ela pensou nele... Infelizmente ainda não haviam se visto pessoalmente, mas ele cativara ela pelo computador... "Provavelmente, ele está indo dormir agora... Deve ter ficado acordado a noite e a madrugada toda" pensava. Ela gostava dele, mas tinha medo de apaixonar-se e não poder te-lo.

Fazia sol e ela fugia dele, preferia a chuva, acalmava os pensamentos mais facilmente. Apesar do sol forte, mesmo para o horário, ela estava fria... Entorpecida ainda, ela sentia que poderia cortar sua pele em vários locais e nenhuma gota de sangue cairia e em alguns instantes estaria com os cortes cicatrizados. "Você tem sérios problemas e você sabe disso, então se controle!" pensava ao olhar para os cacos de vidro no chão. Vivia em eterno conflito na sua mente, várias vozes falavam com ela e não sabia quem ouvir, havia dias que chegava ao ponto de tapar os ouvidos tentando não ouvir mais nada... Em vão.

Ela tinha um segredo, o qual nem ela sabia... Só sentia que era difícil conviver com as pessoas ditas normais. Desejou desesperadamente fazer o que a música de Gallon Drunk dizia, ir embora para longe, muito longe.

Na faculdade era sempre a mesma coisa, ver aula, não comer, ficar com uns amigos, pessoas que ela se sentia bem e conviver com as pessoas que não se dava. Para esses casos sempre tinha a mão um livro, não saia de casa sem um na bolsa... "A boa e velha sindrome do Caramujo eim?" Sempre pensava quando olhava sua bolsa. Ficava contando os segundos para as aulas cabarem, mesmo sendo em um horário que ela preferiria nunca sair de casa, achava bom poder voltar para a casa dela, para seu computador, ela falaria com ele e se sentiria bem.

Dormiria por algumas horas, se recuperaria de ter andado no sol... Seu dia era chato, comparado com o que as pessoas normais fariam, ela gostava as vezes. Queria aventura e ela teria muito em breve...