O entrevistador pergunta ao escritor bêbado sentado numa mesa suja de bar:
- Porque o senhor escreve?
O escritor toma mais uma dose, limpa a boca com a manga suja de sua camisa rota, se arruma na cadeira, faz ares de quem pensa e por fim responde com seu bafo de whiskey barato:
- Escrevo porque está no meu sangue, escrevo porque é meu sofrimento pessoal. Escrevo pois sei as dores de amores, sei o quanto doí olhar para alguém que poderia ser seu e não é.
Ele para, respira, olha para os lados, chama a garçonete e pede mais uma dose.
- Se o senhor não escrevesse, o que faria?- pergunta o entrevistador incomodado com o cheiro de álcool que saí daquele homem.
- Eu me pergunto, porque você me entrevista e o que faria se não me entrevistasse. Se eu não escrevesse, provavelmente estaria onde estou agora.
Ele toma mais uma dose, come algo que se assemelhava a uma empadinha, pediu mais uma dose e cuspiu no chão.
Enojado com o seu entrevistado, o entrevistador resolve acabar com aquela matéria antes do tempo.
- Ok, senhor, muito obrigado por responder as minhas perguntas...
- Está acabando a entrevista mais cedo pois tem nojo de mim? Ora meu rapaz, já tive meus tempos áureos onde andava trajado com as roupas mais caras, tinha as mais belas mulheres, tinha muito mas muito dinheiro. Mas meu rapaz, isso tudo passa, o tempo passa. Cuidado pois um dia você ficará como eu.
Tomou mais um gole, cuspiu no chão novamente, levantou e chamou a garçonete e pagou a conta com a nota mais alta que o jovem rapaz havia visto. Ao sair deu uma pequena piscada para ele e chamou um taxi.